segunda-feira, 3 de julho de 2017

Ladrão de mim

Lá vem você, eu tenho algo a lhe dizer. Vem você sem me escutar, com seu ouvido mais próximo, fingindo não me ouvir, mas você sorria, eu repetia, você não ouvia o que eu tinha a dizer. Num segundo, seu lábios estavam nos meus. Você me rouba um beijo.

E assim nos mantemos. Distância, isso não tem sentido. Você se desculpa, eu me culpo e tudo termina dessa forma. Você sendo seu, e aquele beijo roubado sendo somente meu.

Tudo é ruim no dia seguinte, a música está alta, eu só queria uma cama pra deitar, mas continuo em pé ali. Você se aproxima, sem eu notar. Eu recosto minha cabeça, dedos mexem em meu cabelo, você me rouba um suspiro.


E assim nos mantemos. Distância, ainda não tem sentido. Minha cabeça em sua barriga, levanto-me. Você continua sendo seu, e aquele suspiro roubado era somente meu.

É de madrugada, você gosta de me mandar mensagem. Discute comigo, quer me ver, eu só quero terminar mais uma série e ir dormir às cinco da manhã. Você insiste, briga, rouba a minha paz.

E assim nos mantemos. Distância, continuamos sem sentido algum. Você interrompe a minha rotina, bebendo em algum canto por aí. Você é somente seu, e a paz daquele momento era somente minha.

Duas cervejas, tudo bem eu quero experimentar este famoso lanche que não provei, você ri. Você diz que eu sou o culpado de tudo isso, dessas coisas que você furta de mim, então me rouba um sorriso.

Nos mantemos um pouco distantes, porém mais próximos. Você, de certa forma, começa a ser meu. E aquele sorriso era somente seu.

Uma noite gostosa, algumas conversas e muito a se dizer. Você sabe tanto sobre mim, já me viu por aí, mesmo tendo me ignorado há tanto tempo. Eu tento não flutuar, mas você me rouba o chão.

E estamos tão próximos que minha pele deseja tocar você. Você é tão meu, sinto que este chão nunca me pertenceu.

E sendo ladrão, Robin Hood você passou a ser. Roubando os ouros que eu oferecia como fortuna, aos poucos, enriquecendo a miséria que eu deixava presa sem perceber.

Você me roubou, ao poucos, os medos, incertezas e todas as coisas das quais eu nunca quis pertencer. Você, mais uma noite me roubou um beijo. E me fez sorrir ao amanhecer.

Ladrão, se existe um lugar pra te prender.
Dia após dia este lugar eu vou ser.

Talvez não acredite nessa história de um pobre apaixonado.
Mesmo sabendo que me tornei o mais rico dos seres, ao encontrar você.

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terça-feira, 27 de junho de 2017

Loucurei-me

Ei, vem cá, me olha no olho
Cabeça no ombro 
Sorriso no rosto 
E meus dedos segurando você todo

Vem cá, cadê aquele abraço?
Um beijo, um encaixo
Diminui o espaço
Me faz pular nesse penhasco

Nunca fui de dizer muito
E você nem sequer notou
Que por um descuido
Juntos a gente pulou 

Precipitar-se
É o mesmo que do precipício
Atirar-se
É pedir em namoro no início 
Apaixonar-se
É ser do amor um resquício 
Desafiar-se

Não peço razão aos loucos
Do amor eles nada sabem
Peço loucura aos outros
Que pulam com vontade 

Salto de pára-quedas 
Impede o seu vôo apressado 
É em meio a tragédias
Que um coração é curado

Aí você vem e fica
Em minhas mãos te tenho inteiro
Dedos no meu, 
Em minhas roupas o seu cheiro
Lábios que se tocam
De seus amores eu sou o primeiro
Aquele que não vai embora
E que de noite é seu travesseiro

Rimas ditam o perigo
Lábios, mãos e você 
Versos sobre o amante amigo
Pescoço, pernas, você 
Eu sei que isso é nosso maior risco
Abraços, beijos, você 

Em mais uma noite eu digo que fico
É tudo sobre você 
Todos os dias comigo

Ei, vem cá, me olha no olho
Cabeça no ombro
Sorriso no rosto
E meus dedos segurando você todo

Quando saltar 
Precipite-se 
Quando fica
Dispa-se 
Quando beijar 
Poeme-se 

Quando acordar 
Deite-se
Do amor me fiz estar
Precipite-se 

Por me apaixonar
Loucurei-me

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segunda-feira, 22 de maio de 2017

Bastante singular


Você não seria bom o bastante.

Quando, depois de ouvir toda a história sobre meus relacionamentos naufragados, eu dissesse que precisaria de um tempo até concordar em ser nós novamente. 

Não seria bom o bastante, quando eu me deitasse em seu colo e contasse várias vezes a mesma história engraçada e risse com a mesma intensidade que ri da primeira vez que te contei.

Quando meus lábios encontrassem os teus e nós dois juntos dançássemos uma velha canção que fica presa num sussurro entre o dizer e não dizer, e você se manteria ali. 

Você nunca seria bom o bastante quando eu lhe contasse que já voei por um céu azul, mesmo sabendo que azul é a cor que fica quando você olha nos olhos do universo. 

Talvez na minha ânsia de querer ser muito mais do que o simples e sincero possa oferecer, eu tenha me afogado em algum oceano de incertezas sobre acreditar que alguém ainda possa ser.

Bom, o bastante nem sempre significa muito. As vezes o raso ensina a nadar, gosto quando este não tenta invadir o espaço do meu oceano particular. E me mantenho seguro.

Pois eu sei que você não seria bom o bastante pra se aprofundar. 

E eu não estou te julgando e nem dizendo que você não tenha o mérito para tal proeza. Mas eu não quero te deixar chegar até lá. Pois eu sei o que é bom pra mim, você hoje é só um céu azul, onde pássaros voam e tentam se abraçar.

Eu sou imensidão, intensidade e um amontoado de história que nunca deram certo. Ainda rio daquelas velhas piadas que ouvi há muito tempo atrás. E elas nem eram tão boas assim, como você.

Desculpa se a minha verdade te machuca, mas a verdade dos outros sempre me colocaram os pés no chão. E eu só queria voar.

Ei, você nunca vai ser bom o bastante, porque eu nunca serei a história de dois.

Eu sou céu, oceano profundo, eu sou o bastante.
Vivo em singular.

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segunda-feira, 15 de maio de 2017

Um Dia

Vai chegar um dia na sua vida que deitar a cabeça no travesseiro significa pensar em hipóteses de fazer a vida dar certo e os sonhos na madrugada sobre a vida perfeita vão virar planilhas no notebook iluminando seu rosto em meio a escuridão.

Vai chegar um dia em que dizer em voz alta o que se sente é inseguro. É de dar medo. Ouvir que alguém te ama significa sonhar, e então você sai correndo porque sonhar é coisa de adolescente que não tem com o que se preocupar.

Vai chegar um dia, e esse sempre chega, que pensar em "nós" significa um apertar na garganta, um prender os pulsos, a saudade, portas fechadas e vazios. Mas nunca é sobre duas pessoas dividindo o mesmo espaço em qualquer sofá velho e surrado.

Vai existir um tempo onde você vai chorar sozinho assistindo um filme que já viu mais de cinco vezes sem sentir coisa alguma. Você vai ser o mocinho, protagonista, e então quando o letreiro subir, vai lavar o rosto, tomar um banho e sair pra mais uma noite de vilão da vida real.

Aí vem outro dia que você se torna o senhor da razão quando o assunto é coração. A maior idiotice que já inventaram, razão sobre coração. E você vai dar palpite sobre todos os relacionamentos dos amigos, vai dizer que já passou por aquilo e que a melhor resposta sempre é se por em primeiro, segundo e terceiro lugar. Você vai se esquecer como é gostar de alguém e vai dizer que isso não vale a pena.

E então chega aquele dia. O dia que você se torna o que sempre temeu. Vazio, frio, intocado. Você se torna você e somente este lhe importa.

Não que você se torne um monstro, insensível ao sentimento dos outros ou coisa do tipo. Cada um tem a sua forma de vazio, e muitas vezes esse só fica implícito entre você e um espelho. Ser vazio não significa não ter lido dezenas de livros no último ano, ou ser a pessoa que não respeita o sentimento dos outros. É um outro tipo de vazio. Onde ninguém entra, bebida alguma supre, cigarro não queima e pele nenhuma toca.

Quando esse dia chega, você começa a perceber como os detalhes são importantes, mas eles não cabem dentro da sua bagagem. Você se admira por um sorriso aqui, namora um olhar ali, rouba um beijo apaixonado de alguém, mas continua só se importando em deitar sua cabeça no travesseiro e colocar em suas planilhas o que deseja em sua vida.

E então dizer o que sente em voz alta é inseguro. Sonhar é coisa de adolescente e você cresce. Fica adulto, velho, morre, renasce, tenta ser criança mas não consegue. Você se fecha, e nesse dia as coisas começam a doer.

E essas coisas doem porque são pesada, espinham o peito e ficam presas lá. Escapam pelos olhos em forma de lágrimas mas da sua boca palavra nenhuma se forma. Sua cabeça continua numa cama, notebook desligado, olhos fechados, tentando não pensar, nem planejar.

Nessa noite você sonha.

Você vê um sorriso a te admirar, um par de olhos sussurrando seu nome. Você vê uma pele que canta a canção de "nós". E estes nós não prendem, estes nós São laços tão belos e delicados que você não se importa. Nessa noite você sonha e brinca de ser criança novamente. Você monta casas, viagens e momentos que nunca existiram, mesmo sabendo que fazem parte de algumas lembranças. Nessa noite, você se salva.


E então chega o dia, mais uma vez você se levanta. Sorri com a alma e enfrenta seus medos. Vai naquela velha cafeteria e pede um pequeno, forte e bem quente.


Nesse dia você vai se apaixonar.

E então todos os outros dias serão apenas versos num pedaço de papel. E todo o vazio no peito vai se completar. Sorrisos, musicas, filmes e mais um monte de coisas que você nunca poderia imaginar.

Você ri de si mesmo, pois a maior piada da vida é essa coisa de amar. Mesmo você sabendo que um dia isso te machucou, em tantos outros o amor se propôs a te curar.

E nesse dia, bem, a gente senta e discute como é fácil ser adulto ancorado ao chão que aprendeu a voar.

Mas hoje eu estou aqui.
Você aí e mais nada a se falar.
Vazios são imensidões no calendário
Esperando esse dia chegar.

Imagem: Pinterest


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quarta-feira, 19 de abril de 2017

Importância

"Eu, realmente, não me importo."
Diante do espelho, um par de olhos azuis, a barba maior que o eventual e muita coisa pesando sobre sua cabeça. Essa frase soou mais alto do que poderia ficar presa em sua cabeça, como um grito desesperado de quem precisa desabafar. E, aquele par de olhos, se importavam e muito com tudo isso.

O dia está claro novamente, não fazem nem dez minutos que ele tirou a roupa, tomou um banho e deitou depois de mais uma noite de movimentos. O gosto na boca é seco, é áspero e amargo. A sua cabeça dói e todo o resto do quarto continua girando. Não dirigiu de volta pra casa, mas poderia fazer isso sem ao menos ligar se prejudicaria alguém.

Não faz muita diferença, não para ele. Alguém que não se importa muito com tantas coisas. E podemos classifica-las desde o horário que acorda, a comida que vai comer, o corte de cabelo ou a camiseta que vai vestir. A boca que beija, a mão que segura por dez ou menos minutos e as mensagens que responde fingindo que gosta da situação.

Não se importar é como viver pisando em cacos quebradiços, rasgando a pele sob os pés cansados e continuando a caminhar. É o mesmo que deitar numa cama de solteiro acompanhado, acorda numa de casal sozinho ou tirar o cochilo no carro de um estranho, vestir suas roupas e ir vivendo o dia seguinte.

Ele, talvez tenha razão, quando concorda que não se importa. Mas deita a cabeça no travesseiro depois de mais uma dessas noites e só pensa em como tudo seria diferente se ainda sentisse alguma coisa. Um resquício de sentimento que o fizesse querer ligar, mandar uma mensagem ou ouvir outra vez aquela velha canção sobre eles.

Mas vamos ser bem francos, porque não se pode dizer absolutamente nada sobre ele, sem antes contar como ele gosta de ser um infeliz que desacredita em tudo o que diz pros outros acreditarem. Amor? bobagem. Alguém um dia inventou essa coisa para passar o tempo ao lado de outra pessoa e não ter que justificar o porquê. 

Não se importar é o mesmo que se importar demais. Você acumula um tanto de coisas que quer colocar em outro patamar de importância, as carrega em seu braço e despeja sobre um outro alguém. Este, por sua vez, abre os braços e joga tudo no chão. Aí que a história começa. Alguns vão lá e juntam pequenos detalhes do que pertencia a outra pessoa, outros varrem pra debaixo do tapete. Enquanto você, bem, você ficou sem nada para segurar.

Importância, diz-me uma sobre sua vida que eu lhe conto trezentos motivos para isso não ser classificado assim. Importante é o momento, o lugar onde você está e o espaço que você ocupa dentro dele. Tudo o quê depende de um terceiro para ser classificado dessa forma, não vale a pena. De resto, ele não deixa ninguém derrubar suas coisas no chão.

Mas voltando para aquele dia, onde o sol amanhece. A cabeça girando e o gosto amargo na boca. Voltando diante de um espelho onde ele reafirma para si mesmo que não se importa. Depois de suas lágrimas se misturarem ao quente que desce do chuveiro ouvindo outra vez uma canção que toca em sua mente sem ninguém conseguir entender.

Voltemos ao espelho. A um par de olhos e a frase que ele diz para si todos os dias quando alguém não concorda com suas atitudes. Voltemos cada vez mais, àquele tempo onde ele não concordaria com esta frase, pois fazia sentido se importar com alguém.

Quando tudo estiver de volta neste mesmo lugar. Aí você o coloca diante de um espelho. Depois de deixar seu gosto doce naquela boca, fazê-lo girar a cabeça para ficar diante dos olhos teus e tirar toda e qualquer dor que ele sentia ali.

Depois que a cama de solteiro for a cama apertada de duas pessoas. Você, mais uma vez, sussurra naqueles ouvidos e aguarda pela resposta.

Ali ele se importaria, novamente.

Por uma pequena fração de segundos, quando ninguém estivesse olhando e o sorriso fugisse de seu rosto. Quando desligasse o celular e lesse mais três poemas. Naquele miserável segundo, ao se lembrar daquele tempo, ele sempre se importaria.

Porque quando os teus olhos ainda estavam lá, teria sentido ser importante. Mas depois disso, a única coisa que faz sentido é o amargo na boca e sua cabeça girando. Mãos dadas por dez minutos e um nome que ele nem vai se lembrar.

Desculpem-me se derrubei tuas coisas por aí,
Mas quando é sobre ele, não da pra recolher pedaços do chão.
Sempre fica um nada para segurar.

Cama imensa, quando se está sozinho.
Maldita importância que ele nunca dá!



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terça-feira, 28 de março de 2017

Eu não queria escrever...


Eu não queria ter que escrever isso sobre você...

Não queria porque um par de olhos castanhos não ficam tão bonitos num pedaço de papel, onde não há brilho. Só há o vazio de brancos e brancos esperam por mais palavras. Estas que ficaram presas em minha garganta quando teus olhos estavam nos meus.

Eu não queria ter te encontrado num fim de tarde, visto um filme bom, mesmo você odiando pipoca e eu concordando em pegar só um refrigerante. Porque eu queria dizer pra mim mesmo que você não poderia exercer poder nenhum sobre mim, sem nem ao menos me conhecer. Aí você sorriu.

Sorrisos, grandes trapaceiros, a armadilha que prende a pata de um enorme urso na selva. E esse, pobre coitado, de nada adianta tentar se debater. É forte, soberano, mas está preso em um engenharia que o ser humano, menor e com menos força, inventou para acabar com sua vida. É isto que me lembra o sorriso teu, uma truque que tira minhas forças.

Eu não queria que você conhecesse o meu íntimo numa noite sem muito o quê fazer. Apenas alguns amigos, comidas e filmes velhos sobre adolescentes. Músicas antigas, coreografias de infância. E muito dos teus olhares vendo como eu sou quando sou apenas o Eu de sempre. E você gostou de mim assim.

Você não queria que eu ganhasse nenhuma discussão com você. Nem cheguei a pensar sobre o assunto, mas era óbvio que discutiríamos. E o mais irônico disso, eu venci. Você gostou sim de dormir abraçado comigo, mesmo dizendo que preferiria que cada um dormisse em um lado da cama. 

Eu nem queria lembrar da sua cabeça em meu ombro. Quando você insistia que eu era seco e não demonstrava o que sentia. Quando você dizia que eu não falava nada. E eu só queria estar ali, te abraçar ali, olhar para aqueles castanhos que não tem brilho aqui, mas que brilhavam num infinito quando se encontrava com os meus azuis.

Eu não queria te abraçar por uma última vez. Nem voltar pra casa reafirmando que este é só o começo. Eu não gosto de intervalos, meu peito também não. Gostaria que fosse nós agora e pronto. Nós como os que você deu na minha cabeça quando sorriu.

Por fim, eu não queria dizer tchau, até logo, adeus ou qualquer derivado disso. Porque amanhã o sol nasce aqui pra mim, enquanto pra você já terá acontecido cinco horas antes. Essa é nossa distância: horas. Gosto de pensar assim.

Mas é pelo papel em branco que 
As letras se misturam e se conhecem

Porque eu nunca quis escrever algo assim sobre você.
E de pensar que saudade é uma forma de gostar muito de alguém.

Você se foi, levando um pouco de mim.
Deixando um pouco de ti comigo também.

E o que eu tenho a dizer sobre tudo isso é:
Até logo e fica bem!

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segunda-feira, 20 de março de 2017

Tem a ver com Esperança


Outro copo de cerveja, mais três música e hoje a festa termina assim. No carro dele, de todas as músicas que poderia selecionar sobre ela, a que toca é aquela canção que tocava quando eles ainda eram alguma coisa mais que estranhos.

Mais uma manhã, uma nova dor de cabeça e outros comprimidos com nomes que ele nunca imaginou existir. As semanas eram tão grogues e ficam sempre sob tantos efeitos de aspirinas que sempre voava e o dia terminava antes que ele se desse conta que começou.

Não tem a ver com sentir a falta de um alguém. Tem a ver com não entender o porquê de sozinho ter muito mais sentido. Quando a porta se fecha, alguém do outro lado vai embora e tudo que fica lá dentro é um amontoado de canções, lembranças e gostos que fazem, ou não, sentido.

Quando na rua, andado num desses dias de sol, os dedos não encontram nada além de espaço. E as respirações são ritmadas pelas canções nos fones de ouvido. Ninguém deixa uma mensagem de grande importância, e isso não importa mesmo. Porque é sozinho que tudo tem mais sentido.

Ele nunca achou que responder "onde vai?" fosse tão difícil. Pois antes a resposta vinha antes da pergunta. A satisfação vinha antes da indagação de uma outra pessoa que não muda em nada a direção, nem o ritmo dos teus passos. Ele nunca gostou dessas coisas.

Mas no fim de semana seria como na semana anterior. Um copo e mais três músicas antes da festa terminar. No carro a música é um aconchego sobre pessoas que se tornaram uma só. As canções são sobre ele se pertencer e nada de satisfações.

De manhã vem uma nova dor de cabeça, um par de olhos e boas horas de conversa.

Não tem a ver com sentir a falta de alguém quando você se encontra. Quando o perdido estava o tempo todo trancado dentro da porta do seu peito. Quando a pessoa do outro lado era ele mesmo. Não tem a ver com sentir falta de alguém, quando o Eu que tinha partido.

E então ele se perde em um novo sorriso bobo.
No seu peito vem aquele amontoado de canções, lembranças e gostos.

Mas no fim a outra pessoa também só queria alguns dedos para compartilhar uma caminhada de sol. Sem responder onde vai, porque no fim, eles acabam indo juntos.

Amanhã, talvez ela vá embora, e novas canções terão sentido.
Até lá, o aconchego se torna canção mesmo no silêncio do quarto quando as pernas só se entrelaçam. Quando as páginas ficam em branco e tudo o que ele sente sai da boca e não preenche mais linhas sem sentido.

Não tem a ver com sentir falta de alguém,
Mas com ela aqui, tudo sempre fica bem.

Imagem: ClipartFox

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